terça-feira, 28 de abril de 2020

Sem mais (sobre o Fado Licas)


O sol ora se ergue ora se deita;
e assim, tal como ele, também nós
passamos na cadência que sujeita
a vida em que soa a nossa voz.

Vêm e vão a sede, a fome, o sono…
Vêm e vão de novo… E o coração,
do qual, embora meu, não sou o dono,
bate o tempo da minha duração.

Nisto algo me encaminha sem caminho,
dentro e fora do corpo em que me enleio,
em que me acho e perco, quer sozinho
quer tendo outro corpo de permeio.

Voltarei ao mistério de onde vim,
de onde trouxe este modo de aqui ser.
E o que sou não chega nem p’ra mim…
De meu, só o amor p’ra oferecer.

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