A ilha não sabe como há-de estar:
Se a enfeitar a terra prometida
Ou se foi posta ali à beira-mar
Para lembrar a urgência da partida.
Nem sabe que perfume há-de exalar:
Se a sangue derramado na refrega,
Se a pêssego maduro que, ao luar,
Abençoa o amor na sua entrega.
As ondas, envolvendo-a de brancura
Na imensidão azul que a sustenta,
A cada instante a moldam na figura
Que de si para si o tempo inventa.
E eu quase julgo ouvi-la, como alguém
Que diz “Tal como tu sou só metade
Do caminho de um sonho, que também
Se encontra a meio caminho da verdade”.
Ao lado, entardece a povoação,
A polvilhar de brilhos o poente,
Chamando, do infinito, a embarcação,
Que se aconchega a ela, docemente.
No céu aponta a lua, em tons do sal
Que dá sabor à brisa. E, ao chão,
Acrescentam-se casas, em que mal
Cabe mais do que um simples coração.
Três gatos a brincar às sete vidas
Emaranham sorrisos pelo largo,
De um copo saem histórias esquecidas
Enquanto o Zé Inácio grelha um sargo.
A noite, que enfim chega, sorrateira,
Depois de certa hora, por magia,
Faz ver o som das vagas na lareira
Em que descansa a luz até ser dia.
E alguma coisa em mim, num despertar
Que chega do que é velho e do que é novo,
Que eu não sei o que é, vem aportar
Ao que, em mim, se chama Porto Covo.