quarta-feira, 22 de abril de 2020

Leo



Tem o cabelo pintado
de um sol de negro azeviche,
com chamas vermelho-louco
de um inferno muito fixe.

Cravou um piercing na língua,
um clip na sobrancelha,
mais uma argola no lábio
e outras cinco em cada orelha.

Vai chocalhando a pulseira
de pedras do Oriente
em forma de cascavel
quando quer ferrar o dente.

Mesmo ao cimo do decote,
pisca que pisca um sinal
que, em horas de menos sorte,
nunca a deixou ficar mal.

No ombro, leva um falcão,
na mão, um gato francês.
À perna, prendeu o cão
que lhe morreu há um mês.

Atira para a sargeta
um restinho da memória,
que enrolou numa mortalha
p’ra perfumar certa história.

Mandou calar o Universo
e até o deus que lhe acode
fica em silêncio, p'ra que ela
se oiça a mascar iPod.

A sua bota bicuda
pisa de alto a avenida.
Toda a calçada saúda
o passeio que faz da vida.

De arrasar o Festival
Beira-Tejo, poderosa,
segura, vai Leonor
para a Fonte Luminosa.

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