sexta-feira, 24 de abril de 2020

Volta não volta


(à memória de Vinícius de Moraes)

Vivo, desde há muito tempo,
perdido numa aflição:
é que não sei se ainda caibo
dentro deste mundo ou não,
ou se ele é que já não cabe
dentro do meu coração.

A confusão surge quando
não consigo compreender
se afinal estará o mundo
a minguar sem eu ver,
se será o coração,
pouco a pouco, a encolher.

Pois não acho cabimento
em tornar-se desmedida
a medida do que foi
medido pela própria vida
p’ra existir, e assim ficasse
a vida, em si, dividida.

Depois vem mais a questão
de saber o que sentir,
que o coração não sossega,
não dorme, sonha dormir,
por não saber, acordado,
onde ficar nem p’ra onde ir.

E talvez porque não chego
a nenhuma conclusão,
girando em redor do mundo
por dentro do coração,
lá ando eu, volta não volta,
às voltas numa canção.

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