Ao longe, ao fundo, o farol,
pedra branca a enfeitar
a pele verde e azul do rio
perfumada pelo mar.
Uma vela e uma nuvem,
deslizando par a par,
vão-nos desvelando a luz
que vive dentro do olhar.
Mas por sobre o casario,
como asa que o sobrevoa
e o sombreia, calada,
há uma névoa em que ressoa,
vago, difuso e etéreo,
temivelmente discreto,
uma espécie de mistério
que se tornasse concreto
no acostar de um navio
rangendo aventura e mágoa,
na risada de um menino
que apanha estrelas na água,
num tom de cio e tristeza
de vida em fio da navalha,
num canto a languidescer
de amores de fogo de palha
numa prece iluminada
pela visão do craveiro
que Deus fez subir à fresta
de uma cela do mosteiro,
num bocejo de revolta
e num rugido de medo,
num relógio que bate horas
sempre tarde ou ainda cedo.
Algo que é como saudade,
lucidez ou desatino,
do desejo da vontade
de amar o nosso destino.
Algo que vem lá do fundo
do mundo de cada um,
como se um fosse todos
e todos fossem nenhum.
E há, por fim, uma voz,
dentro da alma, que ecoa,
fazendo-o entrar em nós:
“Aterrámos em Lisboa!”
Sem comentários:
Enviar um comentário