quarta-feira, 10 de junho de 2020

Remissão


(após um diálogo ouvido, entre dois seminaristas,
sobre a incompatibilidade entre o bem e o barulho)

O bem nunca faz barulho.
Discreto, determinado,
É como onda sem marulho
Que alastra por todo o lado.

Surge puro, sem motivo,
Do mais profundo da alma,
Com força de imperativo
Que só, ao cumprir-se, acalma.

É convicto e está seguro,
Na sua recta intenção,
De servir como senhor
De sentimento e razão.

Faz, do outro, outro de si.
Dá-lhe a sua própria vida,
Numa cadência imparável
Rumo à Terra Prometida.

Espontâneo, firme e humilde,
Barulho não lhe faz bem,
Não o estraguem a maldade
E a inveja que o mundo tem.

Mas depois, feitas as obras,
Sabe bem um barulhinho…
Já podes gemer mais alto
Sem acordares o vizinho.

Sem comentários: